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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
A ignorante no ônibus
Aquela situação começou bem do meu lado. Se fosse há alguns anos atrás, certamente eu defenderia aquela mulher; não suporto ver ninguém ser humilhado. Mas o tempo vai ensinando a lutar só quando é necessário. Glorioso Passo da Figueira via Ipiranga, que saia às 16:45 do Beira-rio. Durante mais de 3 anos peguei esse horário. Perdi as contas de quantas brigas arranjei dentro do ônibus. Eu ligava para SOUL, praticamente, todos os dias. Lutei com unhas dentes por mais um ônibus na Ipiranga, pois os passageiros vinham esmagados, literalmente. Briguei por melhorias. Sabe o que consegui? Inúmeras inimizades; pessoas viraram a cara para mim. Se houvesse mais um ônibus, não haveria nenhuma maria roleta encostada no cobrador; diminuiriam as pessoas paradas na porta, conversando com o motorista e atrapalhando o fluxo de quem entra; todos iriam sentados, ou teriam que passar a roleta. Cheguei há uma triste conclusão: As pessoas sofrem porque querem; se lutar, tudo muda...
Eu estava sentado no ônibus, lendo um livro. E, por mais que eu conheça o final da historia, fico preso na leitura e soltando minha imaginação. Uma mulher sentou-se ao meu lado; aparentava mais de 40 anos, carregava uma bolsa e uma sacola. Após observar rapidamente a mulher, retomei minha leitura. A cada parada, o ônibus enchia cada vez mais: subiam mulheres, idosos, adolescentes... A grande maioria eram trabalhadores. Notei que 2 mulheres subiram e, mesmo tendo espaço para passar a roleta, uma delas ficou encostada ao lado do motorista. O motorista ficou tão empolgado, que cruzou um sinal vermelho e quase causou um acidente. As idosas comentaram: "Fica conversado e não presta atenção no trânsito." Eu poderia argumentar, mas segui lendo meu livro, como se nada houvesse acontecido...
Ouvi uma voz, o que fez eu parar de ler e me virar para o lado. A conversa me pareceu agressiva. As perguntas eram direcionadas para quem estava do meu lado:
- A senhora tem algum problema ou doença?
A mulher balançou a cabeça de forma negativa.
- A minha filha está grávida de 9 meses, e não pode ficar em pé. Terá que levantar e dar o lugar para ela. Tu sabe que não pode sentar aí, então por que sentou?
Olhei para o lado, perto do cobrador. Realmente existia uma menina grávida. Sim, uma menina. No máximo deveria ter 17 anos. Ela estava toda envergonhada. "Para mãe, não precisa isso." Mas a mãe dela atacou aquela mulher de todas as formas. Ainda bem que a mulher era educada. Levantou para evitar confusão. A mãe da menina ainda provocou: "Levanta e vai para trás. Vai, vai..." A mulher não aceitou, dizendo que não iria para trás. A mãe da menina passou a roleta e deixou um aviso para menina: "Não levanta daí." Decidi falar, afinal, muitos passageiros estavam me olhando.
- Te peço desculpas por não levantar. É que sou deficiente físico. Caso contrário eu teria levantado.
- Tudo bem. Nem esquenta.
Pedi para segurar a bolsa e a sacola da mulher, mas ela disse que estava leve. Retomei minha leitura...
Se fosse em outros tempos, certamente eu defenderia, botaria a mãe da menina no lugar dela; daria um show de explicações: falaria até sobre leis. Primeiro: O banco que a mulher estava não era preferencial. Portanto, a mãe da menina agiu de forma equivocada. Segundo: Ao observar aquela mãe magra, desajeitada com as palavras, e totalmente sem educação, percebi que seria perca de tempo discutir. Não me meto mais onde não sou chamado. Sempre defenderei as pessoas ao meu redor, mas tem que valer muito meu esforço. Cansei de perder amizades, de ver as pessoas me virarem as costas. Tudo cansa. Sou um guerreiro muito forte, não posso sair batendo nos fracos. Minhas forças são exclusivas para o uso contra o mal; para quem sabe argumentar e aceita perder. O tempo ensina...
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