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segunda-feira, 12 de maio de 2014

O Ônibus lotado



Precisei tratar assuntos profissionais após encerrar minha jornada de trabalho. Depois de tudo resolvido, peguei minha bolsa e caminhei em direção ao elevador. Apertei o botão para descer e aguardei. Meu colega João desceu comigo, conversando, me escutando falar do quanto estou feliz com meu desempenho profissional. Nos despedimos e seguimos rumos diferentes. Pensei no quanto minha sorte mudou, no quanto Deus está sendo fiel, após passar por tamanha tempestade. A sinaleira estava fechada, atravessei a rua e cheguei na 3º perimetral, uma antes da Avenida Cairú. Encontrei meu amigo de sempre, o Jaderson (chamo ele de mano), e ficamos conversando, junto com seus colegas de trabalho, esperando o ônibus...
O horário do ônibus Salomé é muito escasso; é deprimente ver tantos outros ônibus passar. Geralmente, se não houver problemas, o ônibus chega as 18:30, 18:40, no máximo. Nesse dia não foi diferente dos demais. Quando o ônibus chegou, inúmeras pessoas começaram a subir. E o fiscal fez seu discurso rotineiro: "Só mais um degrau. O cartão na mão, encostado na roleta. Só mais um degrau..." Como se as pessoas fossem subir no ônibus mais rápido, só porque está falando. Por ser deficiente físico, eu poderia passar na frente e subir antes no ônibus, achar um lugar e sentar. Mas não fiz isso, preferi seguir a fila e contar com a 'sorte'. Infelizmente, a 'sorte' não estava do meu lado; ao subir, percebi que teria que ficar em pé. Fazer o que? Pedir para alguém levantar? Até que não seria má ideia, entretanto, as pessoas estão cansadas, trabalharam tanto ou mais do que eu...
Não seria justo pedir lugar. Fiquei próximo de uma moça que conheço de vista; treina na mesma academia. Nós nunca conversamos, nem mesmo um simples oi. Então, optei por ficar calado ao seu lado. O ônibus começou a encher, encher, encher e encher. Com os fones de ouvido permanecia no meu mundo, curtindo as batidas eletrônicas. O ônibus parou, não sei exatidar em qual parada, e um mar de gente tentou subir. Daí, algumas pessoas alegavam que não tinha mais espaço; outras tentavam passar para trás. O motorista pediu para os passageiros colaborarem e ir para o fundo do ônibus; revolta e indignação. Na verdade, ele estava vendo pela câmera que era possível passar para trás. Neste momento sigo em pé, concentrado. Após ele arrancar, com pessoas grudadas na porta, a viagem transcorreu tranquila.  Mas algo chamou minha atenção, logo na primeira parada de Alvorada...
Uma voz feminina anunciou ao cobrador: "Vou descer na próxima, passa meu cartão, aí!!" Um inicio de discussão, pessoas reclamando. "Porque não pega outro ônibus? Tinha que ser Salomé lotado, para descer na 43?" (Para quem não sabe, a parada 43 fica bem no começo de Alvorada, onde inúmeros ônibus passam: Alvorada, Passo da Figueira, Vila Elza, São Pedro... Entre outros.) Retirei meus fones e fiquei atento. A moça estava na porta, totalmente abarrotada pelos demais passageiros. E não estava sozinha, havia uma outra mulher junto com ela. Ao descerem na 43, olharam para o ônibus com cara de deboche. Olhei todo aquele movimento e balancei a cabeça de forma negativa, pensando mil coisas. Atrás de mim tinha uma loira, que fez um comentário: "O pessoal vai querer me matar, vou descer na 48." Ao contrário do que ela pensou, o pessoal foi recíproco e abriu espaço. Ao invés de subir no ônibus e passar para parte de trás, as pessoas têm mania de ficar na frente ou no meio do ônibus; parece que está lotado, mas, na maioria das vezes, não está. O ônibus começou a esvaziar. Desci na minha parada, acompanhado do meu amigo. Ao chegar em casa, o pensamento era um só...
As pessoas perderam a vontade de ajudar o próximo, importam-se apenas com seu próprio bem estar. É uma triste realidade; cada um por si, Deus por todos. Sabe quando o país vai mudar? O dia que investirem bilhões em educação... Bilhões e bilhões. Caso contrário, a ética não vai existir; a malandragem vai imperar. E qual é a malandragem do brasileiro? Tirar vantagem em cima dos outros, aproveitar-se do fraco. É apenas um ônibus lotado, né? Mais fácil subir no primeiro que vier do que esperar o correto que passa na minha parada. É assim que funciona, infelizmente. Todos os dias encaro a mesma situação e, por incrível que pareça, os mesmos personagens; o mesmo tumulto no meio do ônibus ou na frente. Não há muito o que fazer. As pessoas deveriam ajudar umas as outras, e juntas, buscar melhorias...