2

terça-feira, 14 de março de 2017

A Formatura - Ensino Superior





É um evento que marca a realização de um sonho, a linha de chegada de uma longa corrida. Muitos colegas, infelizmente, não conseguiram participar. Alguns seguiram a jornada, pois estavam pendentes em algumas cadeiras. A grande maioria foi questão financeira, o que é compreensível. Na minha turma havia sete formandos, mais um casal que se formou com nós, vindos de outra turma. Se somente minha turma se formasse, o valor da formatura seria uns 3 mil reais ou mais. Com a finalidade de diminuir os valores, nos formamos com mais quatro turmas, de outros cursos.
A Andressa e eu fazíamos parte das lideranças. A formatura é mais do que aparece nas fotos ou nos vídeos. Alguns formandos fazem parte da Comissão de Formatura, que trata sobre a Prova de Toga, local onde serão tiradas as fotos, modelo dos convites, entrega dos convites, número de convidados entre tantas outras questões importantes. E os bastidores não são agradáveis. Existem muitos debates - alguns agressivos -, informações diferentes. Certas coisas é importante deixarmos no passado. Devemos focar nas vibrações positivas, o que aconteceu de bom. É sobre isso que gostaria de escrever. Os convites, como escrevi o discurso, a emoção de estar lá. No final, vou publicar meu discurso.


Nota: No começo do texto falei sobre bastidores, debates agressivos. Num desses debates agressivos, acabei sendo ofendido. Exclui meu algoz do grupo, com o aval de outro Administrador e da própria dona do grupo. Aconteceu no grupo, fica no grupo, assim, penso eu. Só que não é assim. Algumas pessoas ficam magoadas e levam no coração para sempre. Ele estava lá e, pelo jeito, influenciou outros formandos, que passaram a debochar e me olhar de cara feia. Eu nem dei bola. Só mostra que são mais do mesmo: analfabetos funcionais. Aliás, só fiquei sabendo porque um amigo que estava próximo deles me contou. Que belos gestores estão indo para o mercado.


No Salão de Atos da PUC têm 1600 lugares, divido por 66 formandos, dá uma média de 23 convidados para cada formando. Com a minha experiência em formaturas (me formei no Ensino Médio e no Ensino Técnico), tentei avisar as comissões e meus colegas: não são todos os convidados que vão. Muitas pessoas julgam uma formatura como um evento qualquer e, na maioria dos casos, nem ligam. Esquecem que é um evento mega importante e marcante para os formandos. Eu sabia que ia haver faltas. Mesmo assim, tentei selecionar bem os meus convidados.
Meu coração se partiu em vários pedaços, pois queria convidar muitas pessoas. Montei uma planilha no Excel com 23 nomes e fui jogando. Mandei áudios no Whatsapp  e pedi confirmação. Deixei bem claro: Se confirmar e não for, nossa amizade será abalada. Se disser, desde já que não pode, buscarei entender. 2 convidados avisaram que não poderiam ir. E conforme iam avisando, a lista ia sendo alterada. Desta forma convidei 23 pessoas.  Além do cuidado com os convidados, ainda tinha um pequeno problema para resolver: o discurso. Geralmente um orador não precisa mostrar seu discurso. Mostra se quiser. Como estávamos entre nove formandos, julguei que era importante mostrar meu discurso e pegar opiniões. Só que fiz isso no momento errado; faltando uma semana para formatura. Eles gostaram, porém solicitaram ajustes.


No curso Técnico em Administração aprendi com o professor Carlos Kulzer: "Discurso tem que ser direto, sem enrolação. Ou as pessoas perdem o interesse." Isto entrou na minha mente. No meu coração. Meus discursos não passam de uma folha, mas são carregados de sentimentos. Não é difícil escrever um discurso. Difícil é captar todas as emoções. Eu sou muito humanista, e gosto de escrever nesta linha. Iniciei o discurso centralizando meus colegas. Relatando o prazer imensurável que foi estudar ao lado deles. Falei do curso, do orgulho que sentia. Meus colegas acharam que eu estava centralizando e pediram para eu focar em "nós". Então, comecei os ajustes, apagando aqui, incrementando ali... Discurso 2 pronto. Ao mostrar para os colegas, uma vez mais, acharam bonito, mas faltava emoção. Uma colega mandou áudio: "Tá bom, Mateus. Mas não senti teu coração. O primeiro é melhor. Quem sabe tu mescla os dois." Mais colegas se manifestaram favoráveis a ideia de mesclar.
Enfim, entre mesclar aqui, arrumar ali, acabei escrevendo 4 discursos. No último recebi um auxilio do Rui, que chamo de "papito". Ele me ajudou no primeiro paragrafo, citando Shakespeare e escrevendo palavras que combinavam perfeitamente com a citação. A partir do segundo paragrafo foi comigo. Estava tudo pronto. Apenas uma questão de tirar uma palavra, colocar outra, mudar alguns sentidos. Discurso finalizado. Só treinar e me preparar para o grande dia. Algumas coisas aconteceram (...), E não treinei o suficiente. O discurso é meu, não posso falhar. O texto é meu. Eu sabia as pausas. Mas nem tudo é como a gente gostaria. Fatores externos acabam atrapalhando e afetando o psicológico.


Cheguei no Salão de Atos da PUC acompanho do Rui (papito) e a Ana (esposa do papito). Logo encontramos mais colegas. Era visível que todos estavam nervosos. Me aproximei da Luana, que trabalha na produtora e confirmei os nomes dos formandos. Em seguida, os demais colegas e eu nos reunimos, conversamos um pouco. Do nada, a Andressa questionou: "Alguém ligou para o Valter, confirmando que ele viria?". Meu coração disparou. Bom, no meio de tantas correrias com convites, Prova de Toga, escolha de música, isso e aquilo, nem pensei em ligar para o Valter, meu querido professor. Nós o convidamos em sala de aula; a produtora filmou e ele confirmou presença. O que mais precisava? Um convite dourado? Não. O Valter têm 53 anos. Um Administrador respeitado. Lógico que vai vir. Caso não pudesse, com certeza ligaria ou mandaria email, já que não usa Whatsaap nem Facebook. Jamais vai decepcionar seus discípulos.
Naquela noite mágica e especial, eu ficaria decepcionado. Não somente eu, mas meus colegas. Ele não avisou nada, simplesmente não foi. Aquilo abalou bastante meu psicológico e afetou meu discurso. Um professor de Administração de outra turma foi nos buscar, o senhor Silvio. Foi muito triste. Mas precisávamos seguir em frente, nada poderia abalar nossa sonhada colação de grau. Todos sentados nos seus lugares. Eu fiquei ao lado da Michele e da Denise. A maior parte da formatura fiquei conversando com a Denise, pois fazia tempo que não nos víamos e sempre nos damos bem. A Michele não largava o celular, nem durante a solenidade. É compreensível. A formatura atrasou um pouco e ela precisava pedir para alguém marcar lugar no restaurante onde havia feito reserva. Os demais colegas pareciam tranquilos. Eu estava nervoso, principalmente quando começaram a chamar os oradores. Minha vez estava chegando.


Observei os oradores atentamente. Não somente a postura, mas o discurso em si. Eles falavam de situações vividas em sala de aula, em determinadas disciplinas. Meu discurso era diferente. Bom, é questão de discurso para discurso; cada um seguiu uma linha de raciocínio. É respeitável. Eu achei os discursos maravilhosos. Mas os oradores fizeram uma coisa que não gostei e me causou certo "pânico". Eles pegavam o microfone com uma mão, enquanto seguravam o discurso com a outra, olhavam para seus colegas e falavam. "Eu não tenho como fazer isso", pensava. Chegou minha vez.
"Agora, chamamos para proferir o seu discurso, o orador Mateus Silva!" Anunciaram. Levantei e caminhei lentamente. Ao entregar o microfone na minha mão, rapidamente chamei para perto e disse: "Eu só mexo um braço. Não tenho como segurar o microfone e ler." Ele segurou para mim e iniciei. O Valter estava citado logo no começo do discurso. Então, li o nome do professor homenageado, travei e emendei o nome do professor Silvio. Do nada tiraram o microfone da mão do rapaz e colocaram num pedestal. Parei de falar. Silêncio. A parte complicada foi. Aos trancos e barrancos, mas foi. No momento de agradecer os pais, acabei falhando. Pedi desculpas para o público e li corretamente. Ao virar a folha para iniciar o discurso oficial, anunciei que estava embriagado de sentimentos, muito, muito emocionado. Se eu errasse, que me desculpassem.
No primeiro paragrafo estava escrito, logo após a citação de Shakespeare: "Encontramos na vida acadêmica, situações que nos cativaram fortemente a alma." Eu li: "Entramos na vida acadêmica...", quando percebi que tinha trocado as palavras... Respirei fundo e continuei. A partir de então, não errei mais. Acertei as pausas, as concordâncias e li calmamente, inclusive gesticulando com a mão esquerda. Tudo acabou perfeitamente.
Após os discursos chamaram os requerementistas. A Michele solicitou nosso título. Finalmente, a colação de grau. Um erro técnico. Na minha última formatura, o caminho percorrido era maior; era possível tocar a música desde o começo. No salão de Atos da PUC, não; o caminho era curto. Portanto, minha música tocou apenas o inicio. Só o solo - Primeiros Erros, Capital Inicial. Por fim, todos os formandos tocaram o capelo para cima (chapéu que acompanha a toga) e nos abraçamos. O final de uma jornada.


Vale à pena participar da formatura. É um momento mágico. Único. Representa a realização de um sonho. Não adianta dizer que vai guardar dinheiro para investir em outro curso. 90% das pessoas alegam isso. E 90% param de estudar. Aconteceu no Ensino Médio, Ensino Técnico e, agora, no Ensino Superior. Torço para que meus colegas alcancem voos maiores, que sigam estudando. Quem puder, não deixe de se formar. É muito bom. De acordo com o começo do texto, segue meu discurso completo.



Formandos,

Inicio com uma citação de Shakespeare, que disse: “Se seus sonhos estão nas nuvens, eles estão no lugar certo, agora cabe a você construir os alicerces”.                       

Encontramos na vida acadêmica, situações que nos cativaram fortemente a alma. A importância de aprender e ensinar reciprocamente, o valor de discutirmos ideias a ponto de discordarmos. A habilidade de conviver com a divergência de opiniões e, ainda, algo valoroso, mágico e rico, que levaremos conosco para o resto de nossas vidas: o conhecimento.

Nós aprendemos de todas as formas possíveis e imagináveis. Tudo começou através de uma cadeira. O exemplo central. Ficávamos na dúvida, tentando entender o que uma cadeira tinha haver com nosso aprendizado. Agora a gente sabe. Olhamos uma cadeira e sabemos todos os processos que ela passa até chegar ao consumidor final. Produção, Contabilidade, Economia,  Marketing, Logística... Compreendemos perfeitamente. Não somente uma cadeira, mas o que for.

Esta não é uma noite qualquer; uma formatura qualquer. Hoje à noite é especial: é à noite que estou diante de Administradores. Gestores que sabem fazer, e sabem como fazer. Todos lutaram bravamente para chegar neste momento. Desafios e mais desafios. Na busca por conhecimento surgem diversos obstáculos. O coração apertou, as lágrimas teimaram em cair, mas a vontade de aprender prevaleceu.

No princípio éramos colegas; aos poucos nos tornamos amigos: nasceu uma família. Nos momentos difíceis todos se uniram por um objetivo, onde houve uma troca mútua: eu te ajudo, tu me ajudas; nós nos ajudamos e juntos aprendemos. Para conquistar sonhos é preciso ousar, e jamais desistir perante adversidades. Parabéns para nós. Conquistamos a primeira graduação. É o suficiente? Não. Queremos mais, muito mais. Enquanto tivermos forças, buscaremos novos aprendizados.

Nossos queridos colegas. Muitos não puderam estar aqui, ao nosso lado, celebrando a vitória. Não há dúvidas que esta conquista também é deles. Sem tal união tudo seria ainda mais complicado. Que nossa amizade perpetue, e que o passar dos anos jamais apague cada sorriso, brincadeiras que vivemos em meio à árdua tarefa de aprender.

Até aqui viajamos juntos. Seguimos firmes nas retas e nos abraçamos nas curvas. Uma viagem maravilhosa pelo conhecimento. Mas, de agora em diante, precisamos nos despedir e seguir viagem. Não vamos dizer adeus, apenas um “até logo”, porque o conhecimento é infinito, e a nossa vontade também. Sei que vamos continuar estudando e, portanto, nada impede uma nova viagem juntos. Até logo. Uma vez mais, parabéns para nós. Amo vocês.  

Muito obrigado.


CRÍTICAS, ELOGIOS OU SUGESTÕES:

mateuspazz@gmail.com