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sábado, 27 de dezembro de 2014

Meu acidente



Às vezes eu tento lembrar como tudo aconteceu. Mas é uma tentativa em vão. Meu acidente foi delatado da minha memória. Nenhuma recordação. Nada. O que eu gostaria de esquecer não consigo. Lembro perfeitamente como era jogar futebol com os amigos; jogar vídeo-game; jogar vólei; dançar pagode... Entre outros ritmos. Luzes brancas. Pessoas chorando ao meu redor. Minha mãe de um lado, do outro, meu irmão. Meu colega de trabalho, o Boca, acariciando meus cabelos e dizendo: "Fica bom logo, meu zagueiro. A gente te espera para o torneio." Era a Copa dos Jornaleiros, que eu estava escalado. É impossível esquecer as palavras da minha mãe, quando saí de casa para ir trabalhar: "Não vai de moto, filho. Espera aprender andar bem. Vai de ônibus." Eu não escutei ela. Eu só queria mostrar aos meus colegas de trabalho que havia conseguido conquistar meu sonho. Minha adorada moto. Mal sabia que meu sonho quase me mataria. Aliás, matou; parada cardíaca por 7 segundos. As pessoas me perguntam muito sobre o meu acidente. Vou contar o que aconteceu...
 No dia 04 de março de 2005, uma sexta-feira, fui até à Zero Hora pegar meu Vale Transporte. Após esta tarefa, o Maurício, vulgo Pateta, ficou de me levar na loja para pegar minha moto: Titan preta, 150 ES. A loja da Via-porto ficava na parada 44 de Alvorada. Ao descer da moto do Maurício, fiquei admirando minha nova aquisição. Meu sonho. Quando subi na moto e liguei ela, senti um prazer imenso, uma sensação impossível de descrever. O Maurício e eu andamos lado a lado na Avenida Getúlio Vargas. Na parada 46 nos despedimos e seguimos rumos diferentes; ele seguiu reto e eu dobrei para direta, pegando um atalho para loja Nice Modas, uma filial onde a dona era minha amiga. A Rochele me viu chegando. Sorrindo me cumprimentou, parabenizou pela moto. Conversamos um pouco, subi na moto e segui meu caminho. Eu queria muito chegar em casa, deitar e dormir; acordar às 04:00 da manhã todos os dias não é tarefa fácil; ser jornaleiro é um serviço que exige acordar cedo. Porém, agora de moto, finalmente trocaria de emprego. Ser frentista era meu próximo passo. Eu queria ser frentista...
Ao chegar em casa conversei com a minha mãe. A moto ficou estacionada na frente de casa. Tentei dormir. Tive pesadelos horríveis. Acordei suando frio. Seria um aviso? Deus nos envia avisos o tempo todo, ainda mais quando se trata de perigos eminentes. Não respeitei os sinais e esperei à noite cair; muitas emoções estavam por vim: minha primeira noite de moto. Encontrei meus amigos na casa do Eder (Este, infelizmente, não está mais entre nós), decidimos ir para Gravataí, curtir as festas que rolavam, os 'pegas' alucinantes e manobras inconscientes. De repente, algumas quadras da minha casa, em frente a padaria Makro Pão, parei a moto e businei para meus amigos. Quando eles voltaram, eu disse: "Não vou ir. Preciso acordar cedo para trabalhar. Deixa para próxima." Retornei para casa e guardei minha moto. O que vou escrever a partir de agora, são relatos dos meus colegas, das pessoas que estavam naquele momento. Como disse anteriormente, não recordo do meu acidente...
Meu acidente aconteceu às 06:00 da manhã do dia 05 de março de 2005. Eu peguei minha moto no dia anterior, às 16:00 horas da tarde. Ou seja, meu sonho não durou 24 horas. Durou tempo suficiente para mostrar aos meus colegas, para alguns amigos; levei o Daniel até a casa da irmã dele. Naquela manhã do dia 05, peguei meus jornais como de costume. Contudo. eu não queria simplesmente levar meus jornais até o ponto de venda; estava disposto a fazer um 'pega' com o Maurício. Era uma promessa; surrar ele. Quanta bobagem. Uma Titan 150, motor zero, contra uma Titan 97, motor amaciado. Loucura. Mesmo assim, sem noção do perigo e da minha inexperiência, corremos. Estávamos na Avenida Assis Brasil, o Maurício, o Shampoo e eu. Mas, correr mesmo, só o Maurício e eu. O Shampoo estava só acompanhando; ele viu tudo que aconteceu comigo. Quando chegou na curva que aconteceu meu acidente. Ali no IAPI, naquela curva antes de chegar no viaduto. Passando o Bourboun, sentido centro bairro. O certo era ter deitado a moto. Qualquer motoqueiro sabe disso. Não... Eu não sabia, e simplesmente virei o guidão da moto. Me perdi. Balancei de um lado para o outro, tentando equilibrar a moto. Eu estava em terceira. Ao invés de frear a moto e reduzir, só segurei a embreagem e comecei a frear. Deu certo. Todavia, cometi um erro fatal. Eu queria muito ganhar do Maurício: "Vou buscar esse louco." Não reparei que estava em terceira. Larguei a embreagem de soco e colei o punho. A moto do 0 foi para o 80 novamente, empinou, voou contra um poste de concreto. Eu subi por cima do guidão e dei de cara no poste. Os jornais voaram para todos os lados...
Meus colegas de trabalho entram em desespero. Quase cometeram uma fatalidade: tiraram meu capacete. Me colocaram sentado na calçada e chamavam meu nome. Eu só olhava e não respondia. Assim que a ambulância chegou, desmaiei. Na verdade, entrei em Coma. Minha situação pioraria no hospital. Não existia nenhuma possibilidade de sobreviver: 23 dias em Coma profundo; Clavícula direita quebrada; rompimento do Plexo Braquial; Pulmão direito perfurado; Pulmão esquerdo parou de funcionar; Traumatismo craniano; Infecção hospitalar generalizada; Parada cardíaca por 7 segundos. Os médicos sugeriram praticar eutanásia (desligar os aparelhos), mas minha mãe disse: "Enquanto ele respirar, tenho fé." Os médicos não davam nenhum tipo de esperança. Se sobrevivesse, ficaria cego, louco ou em estado vegetativo. Ou tudo junto. E eis que o milagre aconteceu. Apenas uma sequela: meu braço direito; nunca mais mexi, nem a mão. Quanta a minha cabeça, os médicos estavam certos, de certa forma. Minhas emoções se misturaram, devido a forte batida de cabeça. Eu nunca mais fui o mesmo. Que bom...
Escrever sobre o meu acidente é difícil, porque tenho muitas informações e recordações do dia 04 de março de 2005. Não escrevi sobre o Márcio, o irmão da Rochele, que é meu grande amigo. Ele andou na minha moto. Não escrevi sobre como deram a notícia para minha mãe: meu chefe e o Maurício vieram na minha casa avisar minha mãe sobre o acidente; disseram que eu havia caído e me machucado um pouco, que estava no hospital. Imaginem a reação da minha mãe ao chegar no hospital. Escrevi pouco, mas parece muito...


Fotos tiradas depois do meu acidente:
















  

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Alexandre - O Gestor



Não conheci no mercado de trabalho alguém que tenha o perfil semelhante ao do Alexandre. Um perfil, praticamente, exclusivo. Um senhor com mais de 40 anos de idade, cabelo grisalho, olhos castanhos e um sorriso cativante. Entretanto, com um senso de humor invejável, parece um garoto de 20 anos querendo chamar atenção de todo mundo, repleto de piadas prontas e disposto a zuar nos momentos mais críticos. Não posso dizer que é o melhor gestor que já atuei, pois estaria desmerecendo e ferindo egos que tanto me ajudaram ou ajudam. Sem dúvidas, o Alexandre está entre os melhores que conheço no mundo corporativo.  Ele iniciou sua carreira jovem, dedicando-se ao mundo das vendas. Trabalhou como vendedor de carros importados durante 1 ano e 6 meses, apenas para adquirir experiência na carteira. Ciente do que queria e viria à se tornar, trabalhou no banco Santander por 2 anos e meio, e 2 anos no Sicredi, onde  ampliou conhecimentos sobre economia, investimentos; o mercado como um todo. Ele me ensinou sobre técnicas de vendas, técnicas de posse e muitas coisas valorosas. Para ser sincero, ensina até os dias atuais, basta eu ligar ou enviar um email. O que quero escrever e demonstrar, é um valor que ele me passou durante uma cruzada num corredor. Antes de chegar as vias de fato, vou descrever como é o Alexandre. Na verdade, vou tentar...
Quando o Alexandre entrou na Venda Avulsa, em março de 2010, como coordenador da equipe de Jornaleiros de Porto Alegre, me pareceu um cara um tanto estranho. Nos primeiros contatos, estava sempre quieto no seu canto. Uma vez ou outra, entrava na área de Planejamento para conversar com meu gestor, o Fernando Contini. (Depois apelidou, carinhosamente, de frey Nando. Não me pergunte o por quê.) Conforme o tempo foi passando, ele começou a ficar mais, digamos assim, 'engraçadinho'. No momento da sua evolução na equipe, pensei comigo: "Por que contrataram esse cara? Ele é meio louco."  É impossível não rir perto dele. Tudo era motivo para dar risada. Às vezes meu gestor estava concentrado, focado em números e na busca de uma solução. Do nada o Alexandre chegava e perguntava: "Fernando, eu já te falei aquele piada do índio com a melhor memória do mundo? Não? Vou te contar, então." E assim por diante. É o cara que quebra o clima pesado, que descontraí e diverte os colegas. Por trás de inúmeras piadas de loiras, português, bêbado... Existia um homem muito, muito inteligente e com a cultura elevada. Não se engane com o Alexandre. Têm duas graduações e duas Pós, sendo uma delas em Gestão de Pessoas. Como ele mesmo diz, gosta de trabalhar num 'ambiente leve'. Este é o cara que pediu para eu ter calma, paciência, que me puxaria para a equipe dele. Já relatei em outros textos e artigos que eu não soube esperar, que atropelei tudo e enfiei os pés pelas mãos. Inexperiência. O André comentava: "Não sei da onde o Alexandre tira essas piadas. Deve ficar o dia todo catando na internet. Não é possível." Lógico que ele respondia. Sempre em tom debochado e muito divertido. É um cara sensacional. Frases dele marcante: "Não sou lagoa para refrescar bunda de pato." "Não me interessa se o pato é macho ou fêmea, eu quero que bote ovo" Enfim, o legado que ficou e é aplicado...
Certa vez eu estava indo almoçar e encontrei o Alexandre retornando para sala. Sorridente, me desejou um bom almoço. Curioso como sou, resolvi fazer uma pergunta: "Alexandre, me tira uma dúvida: Tu está sempre motivado?" A resposta dele foi curta. Mas entrou no meu coração e na minha mente, de tal maneira, que nunca mais esqueci. "Mateusinho, eu estou sempre motivado. O dia que eu me desmotivar, saio da empresa." Dito isso, virou as costas e seguiu seu rumo. Durante muito tempo fiquei pensando naquela resposta, naquele estilo de vida. Queria aplicar e não conseguia. Moral da historia: Trabalhei desmotivado por quase 1 ano. Fui embora da empresa sabendo que poderia fazer mais. Contudo, o que o Alexandre me ensinou, apliquei e aplico frequentemente; busco estar sempre motivado, independente da situação. No Correio do Povo, por um motivo ou outro, fiquei desmotivado. O que eu fiz? Pedi para ir embora. O gerente do RH solicitou minha permanência. Agradeci, peguei minhas coisas e parti. Mais recentemente, no Grupo Apisul, busquei outra oportunidade no mercado e saí. Eu entendi que pessoas desmotivadas não vão dar o seu melhor no ambiente de trabalho. Agora, toda vez que fico desmotivado, sem pensar duas vezes peço para ir embora. É o que todo profissional deve fazer. Um recado para meus amigos...
Se está desmotivado e acredita que a empresa não merece teu esforço, peça suas contas e vá em busca de novos desafios profissionais. Não permaneça numa empresa por amizades, fundo de garantia ou seja lá o que for. Não faça gracinha para a empresa te demitir: faltas, atrasos, atestados. Tudo isso só gera desgaste de ambos os lados. O verdadeiro profissional evita desgastes desnecessários, porque sabe que o mundo dá voltas e o amanhã é um eterno mistério. Já pensou se precisa retornar para empresa? Vai ser difícil readmitirem um mal funcionário. As amizades que se faz numa empresa, permanecem se forem verdadeiras. Sou bem recebido pelas empresas que já atuei; sou bem visto por ex colegas e gestores. É uma dica de quem já trabalhou desmotivado. Grande abraço ao Alexandre, que me ensinou a trabalhar sempre motivado. Desmotivado? É hora de ir embora...


Eis o Alexandre...



Andando de Rolimã com o Valtemar. É uma figura.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Tecnólogo - EAD



Eu escolhi mais que um Curso Superior que se enquadra no meu perfil. Escolhi uma modalidade que causa polêmica em diversos acadêmicos e não acadêmicos. Os Cursos de Tecnologia, aos poucos, estão começando a ser mais aceitos pelas empresas. Todavia, existe ainda muita contradição. Algumas pessoas conseguem, não sei como, confundir Tecnólogo com Técnico. A primeira coisa que precisamos aprender: Técnico é nível Médio; Tecnólogo é nível Superior. Ponto. Existem muitas lendas que as pessoas não sabem, mas julgam por verdade única e irrevogável. Mas não é bem assim. O método EAD é muito, muito contestado. Já ouvi pessoas dizendo que é fácil. Simples. Que nem se compara com o ensino presencial. Como acadêmico nesta modalidade, como Tecnólogo, defendo minha posição nos estudos, no mundo dos negócios. Está mais do que na hora de me posicionar sobre tais assuntos...
O que é mais fácil: Fazer uma prova com muitas dicas de um professor ou fazer uma prova apenas com o conhecimento adquirido? É mais fácil estudar em casa ou na sala de aula? Para ambas perguntas, a resposta é uma só: Depende do perfil do acadêmico. O que é injusto, é criticar sem conhecimento. Se EAD fosse 'fácil' como dizem, tenho certeza que o MEC (Ministério da Educação e da Cultura) não regularizava. É fácil chegar em casa, após um dia de trabalho exaustivo e começar a ler um livro técnico? É fácil ter que pesquisar por respostas, por termos desconhecidos? Deve ser fácil ter apenas uma aula presencial por semana para tirar dúvidas. Vai aprender sobre Demanda Agregada, Política Cambial, sem professor. É preciso força de vontade, dedicação. Quem estudou ou estuda na modalidade presencial, aplica muito a teoria do sofrimento, achando que, os que não passam por situações adversas, certamente não adquirem conhecimento. Como assim? Então, porque não vou para faculdade diariamente, quer dizer que não vou aprender sozinho? Para que existe internet? Quem estuda EAD nunca será inteligente? Sabe o que significa ser autodidata? Podem me criticar, dizer que é fácil EAD. Porém, na hora de aplicar o conhecimento, vamos ver quem aprendeu e quem só tem diploma.
Os Tecnólogos são profissionais preparados para o mercado de trabalho de forma mais rápida, mas com muitas técnicas. Os Bacharelados têm mais teorias, uma forma mais filosófica de enxergar e tratar os problemas. São eficazes, com certeza. Respeito. Mas exijo que a recíproca seja verdadeira. Sabia que, nos Estados Unidos da América, eles estudam cursos de Tecnologia desde 1970? (Pesquisa no Google esta informação, assim saberá como me sinto quando leio algo nos meus livros que não sei e tenho que entender.) O Steve Jobs era considerado um Tecnólogo em Marketing. Por que será, né? O Brasil é um país super atrasado, daí, quando chega algo inovador, os reacionários criticam de diversas maneiras. Mas nem todos. Existem muitos Bacharelados que respeitam os Tecnólogos, que entendem esta graduação. Boas pessoas para buscar informação, tirar dúvidas e, por que não, trocar conhecimentos. "Quem estuda Bacharelado sabe mais, porque estudaram mais tempo." Mito. Sim, estudaram mais. Precisaram estudar teoria de tudo. Sem falar em Religião, Filosofia, Sociologia... Matérias chamadas de caça-níquel, por não ensinarem praticamente nada de interessante. E tem outro detalhe muito importante: Eu vou demorar menos tempo e vou poder fazer Pós Graduação, igual qualquer Bacharel. Eu fiz uma escolha: Quero entender de negócios, não como se formou a sociedade, como os filósofos pensavam. Até porque, o mundo não é um parque de diversões e o mercado de trabalho é agressivo. Não tenho nada contra quem fez esta escolha. O conhecimento é infinito. Poderiam respeitar este senhor que vos escreve? Ou para ser um bom líder, entender de negócios, preciso saber teorias?
Encerrando este artigo/texto/desabafo, depende de como cada leitor vai interpretar, apenas quero dizer que tanto faz o tipo de graduação ou modalidade de estudo. Desde que saibam aplicar o conhecimento adquirido. No mínimo, que demonstrem que entendem do assunto. Demonstrar conhecimento, não é ficar no Facebook postando: "Estou na faculdade." "Aula maravilhosa." "Meu professor sabe muito." "Cheguei na faculdade." Para que? Quer mostrar para todo mundo que está na faculdade? Nada vale à pena se o conhecimento não for aplicado, se existir medo no momento de ajudar as pessoas. Tu estuda para que? Para ser mais um ou para ser diferente? Vai se basear na opinião alheia ou vai tirar as próprias conclusões? Escrevo o que penso, o que enxergo, baseado em debates, conversas paralelas que escuto em muitos lugares. Grande abraço aos Bacharelados e os acadêmicos da modalidade presencial. Eu gosto muito de vocês. De verdade. É por isso que estudo. leio e aplico meu conhecimento, para demonstrar que sou tão capaz quanto os senhores...