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segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Meu acidente - A Cirurgia



Eu só fiz uma cirurgia no braço direito, e não me imagino fazendo outra, salvo se houver algo revolucionário na medicina. Estamos evoluindo rapidamente, e a Ciência avança depressa, buscando resultados surpreendentes. Um dia mexerei meu braço e minha mão normalmente. Minha cirurgia aconteceu no dia 28 de setembro de 2005. A cirurgia foi considerada um sucesso, já que conseguiram restaurar o plexo e fiquei com movimentos limitados no braço direito. Eu jamais vou esquecer essa data por um motivo especial, que está relacionado com o que aconteceu um momento antes da cirurgia. Como fazem mais de 10 anos, acredito que estou pronto para relatar o que vivenciei na cirurgia. Comentei com um ou dois amigos e a minha mãe. Nunca comentei com meu médico ou qualquer outro profissional da área da saúde. Certamente me chamariam de louco e diriam que é a minha imaginação. Eu sei o que senti. Não sei como encarar este acontecimento, se foi um aviso, um presságio, ou seja lá o que for. Apenas decidi escrever.

Antes da cirurgia precisei ficar baixado no hospital alguns dias para realizar exames. Em setembro de 2005 eu estava melhor, pois já havia passado mais de 9 meses que o acidente acontecerá. No entanto, sentia dores nas costas insuportáveis, sem falar no braço direito, que ferroava constantemente. Meu companheiro de  quarto regulava de idade comigo; entre 19 e 20 anos. Infelizmente não pude conversar muito com ele, já que estava com a boca toda amarrada por dentro. Seu pai me contou que ele sofrerá um acidente de moto. Andava entre 70 e 80 quilômetros por hora, quando avistou uma mulher saindo da garagem de carro. Quando menos esperou, a mulher deu uma ré violenta, o que impossibilitou qualquer reação; bateu na lateral do carro e voou por cima, dando de cara no chão. O rapaz estava com um capacete aberto. Uma historia bem triste. Confesso que não tinha tantas habilidades para conversar, não tanto quanto nos dias atuais. Portanto, eu ficava boa parte do tempo assistindo televisão. Mamãe não estava comigo o tempo todo, pois não tinha necessidade. Visitas? Alguns amigos me visitaram, mas nada comparado ao período em Coma. Para passar o tempo ficava andando de um lado para o outro, visitando o quarto de outros pacientes e escutando historias. No dia 27 de setembro recebi uma notícia que me deixou horrorizado.

A enfermeira entrou no quarto e disse que, após às 19:00 horas, estava proibido de comer ou tomar água; deveria ficar em jejum. "Ela deve estar brincando", pensei rapidamente. Só que era sério. Tratei de comer e beber o suficiente para aguentar. Minha cirurgia aconteceria no dia seguinte, às 07:00 da manhã. Pela primeira vez desde o meu retorno ao hospital, estava sentindo certa apreensão, medo de alguma coisa. Nesta altura do campeonato eu já sabia aonde os acompanhantes fumavam. Não só eles, como diversos pacientes. Ali, entre o terceiro e o quarto andar, numa janela grande. Decidi ir até lá, não somente para fumar, mas sim, contar sobre minha cirurgia e o jejum que deveria praticar. Recebi conselhos positivos, algumas risadas, entre um cigarro e outro. Mesmo assim, eu seguia tenso e pensativo. Melhor deitar e assistir televisão. Trinta minutos antes do horário combinado resolvi fazer um lanche e beber água. O relógio marcou 19:00 horas. A partir de então, sabia que não poderia beber e nem comer, independente da minha vontade. E o mais difícil, é que eu queria dormir, mas o sono me contrariou. Mil pensamentos. "O que vai acontecer amanhã?", me revirava de um lado para outro na cama. De repente, de tanto forçar os olhos, consegui adormecer. No dia seguinte despertaria cedo, com a enfermeira me chamando e passando orientações.

Às 06:00 da manhã acordei com a enfermeira chamando. Solicitou que eu tomasse banho e vestisse um avental, sem roupa intima. Confesso que me senti estranho, afinal, meu bumbum estava de fora. Tudo bem. Deitei na Maca e a enfermeira me levou. Depois que ela entrou no elevador e saiu em determinado andar, perdi totalmente a noção de direção; não fazia menor ideia para onde estava me levando. Atravessamos uma porta dupla e entramos numa sala, que havia homens vestidos com roupas largas e de mascaras que tampavam o nariz e a boca. O médico e seus residentes. Meu coração batia acelerado e descompassadamente, parecia que queria me dizer alguma coisa. Com olhos arregalados tentava observar o ambiente. Os médicos não se importaram com a minha presença e seguiam seus afazeres normalmente. Pareciam estar arrumando alguma coisa. A sala era bem iluminada, com luzes fortes. Um médico se aproximou de mim e empurrou a Maca para outro local, próximo a mesa de cirurgia. Ele conversou comigo alguma coisa e me deitou na mesa. O que estava para acontecer jamais se repetiria na minha vida.

A sensação é que minha mão direita está amarrada. Por isso não consigo mexer. Após o médico me colocar na mesa de cirurgia, por uma fração de segundos, senti que alguma coisa "desamarrou" minha mão; mexi meus dedos normalmente. Fiquei sem reação e extasiado. Mas, como relatei, foi apenas uma fração de segundos, e minha mão voltou a ser "amarrada". O médico anestesista pôs o cateter na minha mão esquerda e aplicou alguma coisa. Perguntei para ele se eu iria dormir, e ele respondeu positivamente. Argumentei: "Mas eu nem estou com son...", não consegui completar a frase e apaguei; tudo ficou escuro. Ao despertar estava em outra sala, com mamãe perto de mim e uma enfermeira. Minha boca estava seca, muito seca, e precisava beber. A enfermeira trouxe um suco de caixinha, que tomei "gute gute" (sic). Perguntei às horas: 15:30. Fiquei apavorado. Mais de 8 horas de cirurgia. O lado direito do meu pescoço estava com pontos; meu braço direito, por dentro, próximo do bíceps, também estava com pontos; minha perna direita, na panturrilha. As dores no braço minimizaram e não sentia mais dores nas costas. Certo tempo depois o médico conversou com a mamãe e esclareceu: Eu tinha um líquido retido na medula que, se escorresse para coluna, ficaria paralitico para sempre. Eis minhas dores nas costas. Fiquei mais uns dias no hospital em observação. Depois fui para casa. O que aconteceu na mesa de cirurgia nunca mais repetiu.

Vai fazer 11 anos que fiz uma cirurgia. Depois deste dia eu entendi muitas coisas. O coração avisa quando alguma coisa vai acontecer, sendo bom ou ruim. Existem forças na Terra espirituais que nenhum ser humano jamais vai entender. Chame como quiser: Anjo da guarda, espirito... tanto faz. Deus e o Diabo, conforme crenças de cada um. Tem alguma coisa agindo no meio. Eu chamo de forças ocultas. Minha última recordação de mexer minha mão direita..


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