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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Até logo, Sistema FIERGS



A vida não é justa e todos sabem disso. O destino têm suas ironias. Era para ser uma segunda-feira como qualquer outra, repleta de trabalho e desafios que surgem no decorrer do dia. Todavia, não foi exatamente o que aconteceu. Em todas as empresas que trabalhei, estava ciente quando fui embora. No Grupo RBS, quando os cortes começaram, não tinha dúvida; totalmente desalinhado com a equipe. Sofri muito, mas sabia que aconteceria. No Correio do Povo, eu pedi demissão. Escolas e Faculdades QI, apenas cumpri contrato. No Grupo Apisul, novamente pedi as contas e fui para o Sistema FIERGS. Um lugar lindo, liberdade para pensar, agir e criar. Pessoas inteligentes. Sensacional. Queria crescer, evoluir, mostrar todo meu potencial. Acompanha as notícias? Sabe que o governo cortou verbas da Industria, além da economia estar caindo cada vez mais, não é? Tudo isso parece besteira, que não vai alterar a vida de ninguém. Pois então, veja bem, afetou minha vida profissional; destruiu com meus sonhos dentro do Sistema FIERGS. Chorei muito, muito, demais... Nem almocei e fiquei vagando pelo centro da cidade de Porto Alegre, após meu exame Demissional. Eu não sou incompetente. Acredito que me desenvolvi bastante, me articulei, fiz amizades; criei relatórios, planilhas, fiz levantamentos e estava forte na qualidade (6S) Vou escrever (ou tentar) sobre o que aconteceu hoje e o que senti. Eu não sofri sozinho, mais pessoas sofreram...
 Concentrado no trabalho com os fones no ouvido, volume baixo, para ficar atento caso me chamassem. De repente, do nada, ouvi meu nome. Levantei a cabeça e vi que minha gerente estava parada na porta de uma sala. Parei tudo que estava fazendo e caminhei ao seu encontro. Achei que me passaria alguma demanda, falaria sobre algum processo novo. Ela estava com um papel na mão. No começo não dei bola, nem prestei atenção, no entanto, assim que começou sua oratória, quase desmaiei. Ela falou sobre a Industria e os cortes que estavam acontecendo. Enquanto ela falava, percebi no seu olhar uma tristeza gigante. Por muito pouco, ela não chorou comigo. Ela disse que não tinha o que fazer, que precisava desligar alguém. E, no momento, este alguém era eu. As lágrimas escorriam pelo meu semblante. Com muito pesar assinei o documento. A gerente solicitou que uma colega me levasse ao DP. Percorri o caminho quieto. Chegando lá, peguei o documento para fazer o exame demissional e já fiquei sabendo quando precisava voltar e levar minha carteira de trabalho. Novamente fiquei emocionado, mas contive o choro. Eu precisava encontrar duas pessoas: O Sérgio e o Alexandre. Mais que colegas de trabalho, amigos mais velhos, que saberiam confortar minha dor. Ao entrar na sala do Sergio, uma explosão de sentimentos. Ele sempre alegre: "O que manda, meu amigo?" Caminhei um pouco e sentei numa cadeira.
Tá de brincadeira, né? Foi a primeira reação dele. Minutos depois, chegou o Wagner: "Trick Trick Rolimã?" Tradução: Tudo legal?. Falei para ele que não estava, que eu havia sido desligado. Ele ficou sério. Baixei minha cabeça e comecei a chorar. Chorei muito. Falava do quanto queria ficar, do quanto queria crescer e me desenvolver. Chorava que soluçava. Uma criança desesperada. Senti meus sonhos, uma vez mais, escorrendo por entre meus dedos. Dor, muita dor; sensação de total impotência diante os fatos. Desnorteado. Destruído. Sem poder de reação. o Sergio e o Wagner me consolavam, me desejavam força. O tempo foi passando, as lágrimas pararam de escorrer. Levantei, pedi licença e fui procurar o Alexandre. Infelizmente, ele não estava na casa; serviço externo. Retornei para sala do Sergio. Subjuguei que estava forte, que poderia voltar e fazer um discurso de despedida na GESAD. Chamei minha gerente e pedi para ela me levar na sala, que queria fazer uma fala rápida. Ela concordou e me levou. Solicitou que todos parassem, que eu queria me despedir, que era meu último dia na casa. Eu achei que estava forte...
Comecei agradecendo e me desculpando, caso tivesse magoado alguém ou agido de má fé. Agradeci o aprendizado, reforcei que estava indo embora não por incompetência, e sim, por que a crise havia me pegado... Comecei a chorar lentamente. Devagar tirei meus óculos. Não tive forças para continuar; as lágrimas despencaram sem parar. Botei a mão nos olhos e virei de costas. Muitos aplausos. Depois de algumas voltas no Sistema, me despedindo de muitas pessoas, retornei e abracei meus colegas da GESAD, agradeci e fui embora sem olhar para trás. Ainda tinha mais uma parte importante que precisava encarar; Recebimento e Expedição. Foi exatamente o que fiz. Pedi para meus colegas pararem o trabalho, que eu tinha uma informação importante para passar. Falei tudo que havia acontecido. Eles me olhavam sem reação. Pareciam não acreditar. Todos vieram me abraçar. Gurizada guerreira que sempre ficará no meu coração. Estava encerrado um ciclo. Curto, diga-se de passagem. Dizer adeus? Até logo, não sei o que vai acontecer depois da crise. Talvez lembrem meu nome. Quem sabe me chamem para uma prova. Ou não. Que tristeza. Como vou olhar as pessoas e dizer que estou desempregado, não faço nem ideia. Nem quero pensar nisso. Tenho que praticar minha fé...

Praticando a fé.  

Eu não sei porquê certas coisas acontecem comigo. Mas deve haver um motivo, uma razão maior. Nada é por acaso, e é nisso que acredito. Falar em Deus é fácil, difícil é acreditar e ter fé. Fé que dias melhores virão. Até poucos dias atrás escrevi sobre como me sentia no ambiente de trabalho, de como era importante estar na empresa. Enfim, descrevi minha motivação diária. Agora preciso parar, pensar, relaxar minha mente. Deus... Sei que meu caminho é repleto de glórias. Vai ser uma fase difícil, porque não vou esquecer a FIERGS e tudo que ela representa no meu aprendizado. Queria muito acordar e ir trabalhar amanhã, mas não será possível; vou lá somente levar minha carteira de trabalho. Deus deve ter planos melhores para mim. "E mesmo que eu ande pelo vale das sombras e da morte, não temerei mal algum, porque tu senhor, está comigo, e em ti, eu confio." Que seja feita a vontade de Deus...