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terça-feira, 18 de dezembro de 2018

As Vantagens do PCD




Precisamos entender que existem dois tipos de deficiência: Adquirida e Nascença. Adquirida é quando tu sofres um acidente ou acontece alguma coisa que faz ser deficiente. Nascença é quando tu já nasces deficiente. Tornar-se deficiente foi algo muito difícil para mim. Nos primeiros anos, sonhava intensamente em mexer meu braço direito novamente. Aos poucos, meu sonho foi sucumbindo, até ir de encontro com a realidade. Certa vez estava triste, cabisbaixo. Meu amigo Gustavo, disse: "Infelizmente, para recuperar os movimentos do teu braço vai demorar. Tu precisas ver o lado positivo e aproveitar. Anda de ônibus de graça; veja a questão dos carros com isenção; não precisa mais ficar em fila. Enquanto não te recupera, aproveita as vantagens. E são muitas. Pesquisa para ti ver." Isto foi em meados de 2006, mas nunca esqueci. Muitos anos depois, o Gustavo seria minha inspiração nos estudos.
Na atualidade, conheço muitos benefícios que os deficientes têm direito. Posso debater sobre deficiência com qualquer intelectual, sem dificuldade, principalmente o que tange acessibilidade. Já ouviu falar em cota para deficiente em faculdade? Existe cota para negro, pobre, índio e sei lá mais o quê. Deficiente? É enquadrado como qualquer pessoa. Pode ter adaptações para fazer uma prova, e só. Vou escrever sobre as vantagens, com a finalidade que entenda que nem tudo é o que parece ser. Algumas situações não são preconceito, as pessoas simplesmente desmerecem um PCD. Em outros casos, complicam o que poderia ser simples, demonstrando total desrespeito. A maioria das pessoas acreditam que deficiente compra um carro zero km quando bem entender; acreditam que basta pegar um ônibus e andar de graça. Continua lendo que vou escrever uns detalhes que vocês não conhecem.

Digamos que tu és deficiente e quer comprar um carro com isenção (para de achar que deficiente tem desconto). A isenção se refere a IPI e ICMS (não paga IPVA). Para ter um carro com isenção, precisa comprovar tua deficiência. Vai numa CFC que vão te encaminhar para o médico. Após o médico examinar, vai te encaminhar para junta médica do DETRAN; eles vão dizer as especificações do carro. Por fim, serás encaminhado para Receita Federal, para conquistar as isenções. Depois de alguns meses, ao ir na concessionária, descobre que carro com isenção é até 70 mil reais; acima é isento somente de IPI, vai pagar IPVA normalmente. A Toyota tinha um Corolla específico para PCD. Custava 69 mil reais e alguma coisa. Com as isenções, o preço ficava em 54 mil. Daí começa os detalhes assustadores: retiram todos os itens; nem rádio o carro tem. Um carro pelado, com rodas de ferro. E não é só a Toyota que faz isso. A Hyundai oferta um Creta. Adivinha? Sem nada. E o preço é salgado. Sem falar no tempo de espera, que varia de 30 a 90 dias. Geralmente ultrapassam o tempo. Eles mandam o pedido para fábrica produzir um carro específico para ti. Recentemente li um comentário de um deficiente que esperou mais de 1 ano para pegar o carro. Podemos dizer que carros para PCD são diferentes, não somente pela deficiência em si, mas por perder muitos detalhes originais. Carro sem rádio!? Grande vantagem, né?
Não obstante, pesquisei e encontrei duas marcas que entregam carros completos para PCD, sem tirar os itens: GM e Peugeot. Essas duas marcas chamaram minha atenção. A GM oferta até o Cruze 1.4 motor turbo para deficientes. Infelizmente, por ser um carro top de linha, só tem isenção de IPI. A GM banca a isenção de ICMS e o carro de 96 mil, caí para 72 mil. É uma bela aquisição para os deficientes que têm condições. A Peugeot oferta o 208 e o 2008 (SUV). Carros completos e lindos. Aqui, a grande vantagem é a taxa 0. Ou seja, matemática simples e sem sustos. A Honda aparece com um Fit para deficientes. Precisarei pesquisar, e não me assustarei se retirarem os itens.

Os deficientes têm passe livre para andar de ônibus, certo? Errado. Deixa eu explicar, como realmente funciona. Para andar de ônibus de graça precisa ter um laudo atualizado e levar no órgão responsável. Dito isto, ganharás o passe livre interestadual. Quer dizer que poderás se deslocar de um município para outro de graça, em todo estado do Rio Grande do Sul. Agora vem a parte complicada. Se um deficiente vir de Porto Alegre para Alvorada e tentar pegar um ônibus dentro de Alvorada, paga passagem. Para ser isento em Alvorada, é necessário fazer a carteirinha de isenção especifica de Alvorada. Pode andar de município para município, mas circular dentro de um município, não.
Pode pegar trem também, caso haja o deslocamento para outro município. Muito calor e quer ir para praia? Vai na rodoviária e pega a passagem e escolhe para qual praia quer ir. Só tem um grande detalhe. É um lugar por deficiente, no máximo dois. E o ônibus é aqueles "pinga-pinga", que vão parando no meio do caminho. Quer ir direto? Paga.
É deficiente e quer andar de avião? Pode. Só que precisa avisar antes, bem antes. Não é só chegar no aeroporto e pedir passagem. Existe um processo burocrático por trás. Tem que comprovar tua deficiência, laudo atualizado... Blábláblá! Não importa se tu deficiência é aparente, que é uma deficiência permanente. Tem que comprovar. Fazem de tudo para ti desistir e pagar.  As supostas "vantagens" que um deficiente tem, são recheadas de burocracias desnecessárias e limitadoras. Poderia escrever sobre inúmeras situações: Concurso Público, Mercado de Trabalho, Academias, Faculdade... A lista é gigante.

Ser deficiente é uma luta constante. Ter vantagens é uma guerra para adquirir direitos. As pessoas acham que deficiente faz o que quer, a hora que bem entender. Não é assim. Falar de deficiência é um tema muito amplo. Eu não mexo um braço; tem pessoas que não tem um braço; cadeirantes; cego; surdo, mudo; ambos; deficiência mental... São muitos os tipos de deficiência. Se não tiver um dedo, é deficiente. O ex-presidente Lula se enquadra como deficiente. É aposentado por um dedo. Quantas pessoas perdem as duas pernas e têm que trabalhar? Eu não mexo o braço inteiro, não sou aposentado. Cada caso é um caso. Acessibilidade não é colocar uma rampa em determinados lugares para cadeirantes. É importante, claro, mas não é só isso.
À noite da minha formatura, por exemplo. Quando estávamos no ensaio do juramento, precisava levantar o braço direito, e eu levantei o esquerdo. Um dos formandos de outra turma gritou: "Direita, não esquerda. Não sabe a diferença"? E as risadas começaram. Me virei, educadamente respondi: "Eu não mexo o braço direito, sou deficiente". Silêncio total. As pessoas não querem saber se tu és bonito, feio, gordo, magro, pobre ou rico; vão olhar tua deficiência. Ponto. A vida de um deficiente é mais complicada do que muita gente imagina.

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