Em Abril de 2016 eu fiz uma prova que poderia ter mudado minha vida. Em janeiro acabou as parcelas do meu seguro-desemprego, no mês seguinte, fiquei atento ao edital de um Concurso Público. O nível era Ensino Médio, e o salário, mais de 3 mil reais. Poderia realizar muitos sonhos, liquidar dividas; um verdadeiro espetáculo. De quebra, já realizaria meu sonho de ser Analista. Eram 30 questões, sendo 5 de Matemática, 5 de Português e 20 de conhecimento específico: Legislação Trabalhista e Previdenciária; Informática; Gestão de Pessoas; NR 32; Ética e Bioética e Diretrizes do SUS. Passaram-se 7 meses e não comentei sobre o assunto. Poucas pessoas sabiam desta tentativa de melhorar de vida. Eu gostaria de escrever que passei, que sou funcionário público. Demorei certo tempo para absorver o golpe e encarar a realidade: não passei por pequenas falhas e um trauma pós acidente. A falha é toda minha; deveria ter estudado um pouco mais. Valeu a experiência. Quero escrever sobre minha preparação e os desafios que enfrentei.
Eu precisei conversar com meu pai, já que não poderia pagar minha inscrição. Meu pai fez mais do que pagar, dando dinheiro para comprar a apostila de estudos. E daí que meus problemas começaram. Tu já leu uma apostila de concurso público? Eles colocam duas páginas em uma só. Letras minusculas. Muitas vezes é preciso forçar a visão. Dor de cabeça? Faz parte do processo. Eu me considero muito bom em Português, mas não bastava. Precisaria de bem mais, do que apenas confiança e tratei de pedir ajuda para um amigo que é Mestre de Literatura Montada pela UFRGS. Ele não recusou meu pedido e me emprestou diversos DVDs para eu estudar e aprender sobre Regência Verbal e Nominal; uso da crase; Pronomes e Artigos... Enfim, muitas regras que cairiam na prova. Tudo ocorrendo conforme o planejado. Perfeito. Mas faltava um detalhe importante: comprovar minha deficiência. A princípio seria simples. Meu médico não negaria uma atualização de laudo. De fato, não negou. Mas aconteceu algo não calculado, que quase fez eu desistir do concurso. Após alguns anos sem ir ao hospital, descobri que minha Terapeuta Ocupacional não fazia mais parte do quadro de funcionários, o que acabou complicando um pouco meu acesso. E mesmo que ela ainda estivesse, passaria pelo sufoco de qualquer forma. Nesta parte eu também falhei, porque deveria ter adiantado o planejamento, lá em fevereiro, quando vislumbrei a vaga. Papai precisou colocar a mão no bolso, uma vez mais.
Meu médico atende quarta-feira, a partir das 14:00 horas, no Hospital Cristo Redentor. Às 13:00 horas eu já estava lá, aguardando. Eu não tinha consulta marcada, por julgar que seria um atendimento simples. Como de costume, quem não tem hora marcada é o último atendido. Justo. Lá pelas 15:30 deixaram eu entrar no consultório. Conversei um pouco, expliquei minha situação. Ele foi direto: "Tu precisa marcar uma consulta. Daí vou ter acesso ao sistema e ver o que aconteceu contigo. Sem isso, não posso atualizar teu laudo." Um choque de realidade. Bom, ele autorizou e tratei de ir marcar rapidamente com a recepcionista uma consulta. Tudo aconteceu no começo de março, e eu tinha até o dia 12 para entregar meu laudo na FAURGS; laudo atualizado com até 180 dias de expedição. A recepcionista marcou e passou a data: 24 de março. Nossa... eu quase desmaiei. Expliquei a situação. Ela zombou: "Não posso fazer nada. É do teu interesse. Tinha que ter vindo antes. Vai perder." A raiva que eu senti, algo inimaginável. Mantive a postura. Agradeci e fui embora. No caminho, lágrimas rolavam. Uma dor no peito. Chegando em casa, conversei com a minha mãe, que me consolava. Foi então que meu pai entrou em cena novamente. Precisei marcar uma consulta particular com um Neurocirurgião, com a finalidade de atualizar meu laudo. Poxa... Duzentos reais para o médico só copiar meu laudo antigo, assinar e colocar uma data. De chorar. Quem manda demorar. Enfim, laudo entregue, agora, bastava estudar. Olha só o que eu fiz.
Português não seria meu problema no concurso. O inimigo era outro: Matemática. Meu amigo Mestre havia emprestado também DVDs que continham aulas de Matemática, mas decidi ir além. Pesquisando no Google, encontrei um canal mega interessante no You Tube: Matemática para Passar. Aulas com o professor Renato e o Marcão. Os professores são os melhores que já assisti. Eles pegam provas de concursos e fazem, ensinando muitos macetes. Fiquei vislumbrado. Apesar de estar forte no Português, busquei reforçar, uma vez mais, encontrando um canal no You Tube. Aprendi a diferença entre interpretação e compreensão textual. Primeiro olhe as respostas, depois, olhe o texto. Eu fiz o que pude. Sem curso preparatório, não tinha como focar neste ou naquele assunto. Acabei estudando de tudo um pouco. Perdi meu tempo. No dia da prova me arrependi.
Minha prova aconteceu no dia 17 de abril, no colégio Estadual Rubem Berta, na Vila Jardim. O horário da prova era às 09:00 da manhã. Então, planejei pegar o ônibus 06:55 da manhã. Eu saí de casa faltando 10 minutos. Para meu desespero, o ônibus resolveu sair antes. Sem segunda opção, caminhei até à faixa. Por sorte, em menos de 5 minutos passou um ônibus em direção à Protásio Alves. Subi no ônibus e desci na parada 48. Estando lá, demorou mais uns 10 minutos e passou um Alvorada Assis Brasil. Ótimo. Estava ciente que precisaria pegar mais um ônibus para chegar no colégio. Cheguei no colégio quase 1 hora antes da prova, e já se encontrava várias pessoas no local. Pessoas bonitas. Algumas acompanhadas. Procurei meu nome na lista. Após encontrar, eu só poderia esperar o horário. Eu levei uma garrafa amarela, destas esportivas, com chá gelado. Um dos participantes me informou que não podia, que a garrafa tinha que ser transparente. Até hoje não entendo esta regra. Comprei uma garrafa de água. Bem no fim, a banca não falou nada da minha garrafa amarela. Tomei o chá, depois água. Falando da prova: fácil. Olhei as questões de Português, quase dei risada. Só uma que eu não tinha certeza, porque se tratava de anexos. Olhei as questões de Matemática. Fácil... Mas fiquei nervoso e me enrolei. Cálculos simples, nada demais. Falhei. As outras questões de Conhecimento Específico me surpreenderam. Nada do que eu tinha estudado. Tinha até uma questão do Chiavenato, um dos teóricos do Administração. Nesta altura do campeonato eu já estava todo enrolado. Meu ego saiu intacto desta aventura; só errei uma questão em Português; acertei todas de Informática. Acabei pecando em Matemática e em outras questões de Conhecimento Específico; nem quis olhar o gabarito. O sonho sucumbiu.
Eu lutei para fazer o concurso e estudei conforme consegui. Quem faz curso preparatório têm mais chances, por saber o que estudar. Estudei Regra de Três Simples e Composta, Ética e Bioética, Diretrizes do SUS e outros tantos assuntos... nada caiu. Havia uns links para clicar e estudar no edital. Eu olhei rapidamente. Quando li a questão do Chiavenato... sabia que estava nos links. Mas nem tudo é lágrimas e lamentações. Eu evolui. Meu Português melhorou; aprendi a analisar uma prova; sei macetes de Matemática; conheço a estrutura de um Concurso Público. E tu, já fizeste algum concurso? Deveria fazer. É bom. O que tu vai perder? Certo que tu vai ganhar. Se passar, me convida para festa. Caso contrário, com certeza vai aprender alguma coisa, assim, como eu aprendi...
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