Fiquei desempregado dia 18 de maio de 2015. A gerente me chamou, estava com um papel na mão. Jamais imaginaria que seria desligado, afinal, estava desempenhando meu papel e agregando. Mas o mundo empresarial é assim, cortes existem e devem ser feitos, doa a quem doer. Analisando a situação, eu era o corte certo; menos tempo de empresa e o menor salário. Sem ressentimentos. A vida segue e as amizades verdadeiras permanecem. Tentei uma recolocação rápida. Infelizmente, a empresa que ambicionei, eu não tinha perfil para vaga. Passaram-se 2 meses. No terceiro mês, acionei meu seguro. Resolvi dar um tempo e refletir todas minhas atitudes. Nunca foi tão bom. Desde novembro estou analisando o mercado e enviando meu currículo; não pretendo esperar meu seguro acabar. O mercado de trabalho está concorrido. Sempre vai existir trabalho, é só querer trabalhar, algumas pessoas dizem. Quero trabalhar na minha área, onde tenho experiência e sei que vou fazer a diferença na equipe. Então, meus problemas começam. Segundo os leigos, deficiente consegue emprego em qualquer lugar. É só escolher a empresa desejada e correr para o abraço. Quem dera. Se eu pudesse escolher (...). Existem multinacionais excelentes para desenvolver um trabalho eficaz. Não é simples. Deficiente enfrenta processos para entrar numa empresa, como qualquer pessoa: Prova, entrevista, entrevista com o gestor da área, testes; variável entre uma empresa e outra. Na madrugada fico olhando sites de empregos para deficiente. Só de olhar o salário, já sei que querem deficiente para preencher cota. Eu corro de empresas assim. O mercado de trabalho para deficientes não é um mar de rosas.
Certa vez visualizei uma vaga que fiquei emocionado. Salário de R$ 3.000,00, benefícios e PPR (Prêmio de Participação nos Resultados). Seria excelente para pagar minhas dividas, investir em conhecimento, arrumar minha casa, tirar minha carteira... Nossa. "O que será que pedem para esta vaga?", fiquei me perguntando. Ao clicar na vaga e ser redirecionado, quase caí para trás. Ensino Superior completo em Administração ou áreas afins; estar cursando Pós Graduação; Pacote Oficie avançado; inglês fluente; e claro, ter experiência. Quantos PCDs têm tamanho conhecimento? Não conheço nenhum. Entende o que quero dizer? São vagas maravilhosas, com um salário acima da média, entretanto, exigem qualidades que poucos ou nenhum deficiente tem. É um absurdo. E isso não é nada. Existem os casos que pedem muito e pagam pouco. Por exemplo: Estar cursando Ensino Superior, Excel avançado e experiência na área. Salário: R$ 980,00. Pergunta: Um PCD inteligente, com experiência de mercado, aceitaria este salário? Não existe teto salarial para deficiente; não existe fiscalização nas empresas para ver como o deficiente está desenvolvendo suas atividades; não existe instabilidade para deficiente; não existe facilidade. É tudo lenda urbana. As pessoas falam o que não sabem. A única diferença entre deficiente e os demais trabalhadores, é que têm vagas específicas para nós. Apenas isso. Contudo, para disputar essa vaga, o processo é o mesmo. Ou acredita que, por ser deficiente, só existe uma conversa informal e imediatamente é contratado? Se assim fosse, certamente já estaria trabalhando numa multinacional e estaria comprando presentes para meus amigos. A realidade é diferente da imaginação. O mercado de trabalho está retraído, independente de ser deficiente ou não. Enviei muitos emails, me inscrevi em diversas empresas e fiz algumas entrevistas. Até agora, nada deu certo.
Um dia me chamaram para fazer uma entrevista, remuneração agressiva, bons benefícios e o horário de trabalho excelente. Era uma multinacional sigilosa, que eu só saberia o nome se fosse contratado. Fiz a entrevista e passei. Fui chamado para um teste com os gestores da área. O teste aconteceu num hotel. Fiquei numa sala, me deram um celular e uma folha com algumas informações, que eu deveria passar para um cliente. Um dos gestores me ligou. Conversamos e atendi como sou acostumado: repleto de educação e buscando entender o cliente. Tudo certo. Após acabar o teste, os gestores me chamaram para conversar. Posicionei-me, exaltando minhas experiências e meus pontos fortes. Jurei que havia passado. Fiquei surpreso, quando a agência me ligou e informou que não fui selecionado, porque não tinha perfil. Até hoje não sei qual empresa se tratava. Um dos meus maiores problemas é esse: posiciono-me de uma forma muito executiva; fraqueza que estou buscando solucionar. Raramente as empresas querem um deficiente inteligente. Deficiente é visto como um simples executor de tarefas, jamais como um estrategista. Escrevo com convicção. Em todas empresas que atuei, somente uma vez vi um deficiente ser promovido. Por que os deficientes não são promovidos? Fora o comodismo, tem outra questão, que é lei. Uma vaga preenchida por um PCD, só pode ser exercida por outro PCD ou excluem a vaga e remanejam para outro setor. Ou seja: para um deficiente ser promovido, outro deficiente precisa ocupar sua vaga. As empresas têm cotas por setor. Por essas e outras, que dificilmente verás um deficiente em cargo de gestão. É um dos meus grandes objetivos: ser gestor. Estarei me formando no Ensino Superior em 2016 e pretendo fazer MBA. Estudo porque gosto de ser inteligente e saber como funciona uma empresa. Talvez, quem sabe, o mercado de trabalho oferte uma vaga que valorize meus estudos.
Quero ser inteligente ao ponto de romper barreiras e mostrar para outros deficientes que, sim, é possível ocupar cargos de gestão. Eu já vi cada abuso no mercado de trabalho, que é fora do comum. Eu já sofri assédio moral e não desejo isso para ninguém, principalmente para minha categoria. É uma sensação horrível. Destroem o psicológico; fazem a pessoa se sentir um lixo. Com algumas estratégias, consegui superar (...). Escrevo este texto para tentar demonstrar o quanto o mercado de trabalho está complicado. Não sou um simples deficiente que preenche cotas. Sou um deficiente profissional. Deficiente não entra na empresa que quiser. Pare de pensar que tudo é fácil para nós, deficientes.
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