2
sábado, 11 de outubro de 2014
Assalto ao Salomé
É muito triste ser assaltado. É horrível ver as pessoas sendo roubadas. E, pior ainda, é ver tudo isso acontecer dentro do ônibus. Nunca passei por tal situação. Aliás, nunca havia passado. Eu só queria chegar em casa, trocar de roupa e curtir minha internet. Mas nem sempre os planos que a gente faz acontecem. Era para ser uma sexta-feira normal, como tantas que já vivi. Ao passar do Triângulo e entrar na Baltazar de Oliveira Garcia, minha sorte começou a mudar. Quando o tiro aconteceu, rapidamente pensei no pior. Uma historia e tanto dentro do ônibus...
Eu saí da faculdade às 21:30 e caminhei em direção à parada de ônibus. O centro de Porto Alegre é um tanto agitado na parte da noite, mas é um agito um tanto sinistro. Tudo bem, eu sei que só preciso caminhar sem olhar para os lados com muita frequência. Ao chegar na parada, o Salomé já estava encostado, quase arrancando. Como conheço o motorista, fiz sinal para esperar. Ele sorriu. Entrei e sentei no banco único. Ficamos conversando sobre a próxima volta dele, que se iniciaria às 22:35. Fiquei elogiando ele, sua velocidade e firmeza ao conduzir o ônibus. Tranquilo. O ônibus começou a encher. Algumas mulheres ficaram sentadas na frente, inclusive, 2 jovens (vulgo novinha). Por esse motivo, quando subiu uma mulher com uma deficiência na perna, nem pensei em ceder o lugar; uma das jovens deveria levantar, afinal, sou deficiente, também. E aconteceu exatamente isso. A mulher deficiente em questão, subiu na Baltazar de Oliveira Garcia. Umas 2 paradas depois, passei por uma situação que jamais imaginei, apenas ouvia falar...
Escutei um estouro super alto dentro do ônibus. O cobrador começou a falar para o motorista: "Pega a direita. Pega a direita." Meu primeiro pensamento foi que havia estourado o pneu. Entretanto, numa fração de segundos, descobri que não foi o pneu. Estavam assaltando o ônibus. Não somente o ônibus, mas também os passageiros. Tirei o celular do bolso e botei dentro da cueca. Rápido. Preciso. No entanto, eu estava voltando da faculdade, era dia de escrever uma redação. Portanto, dentro da minha mochila estava meu netbook. Na minha carteira tinha uns R$ 30,00, meu cartão de crédito, o cartão que recebo do banco, minha carteira de isenção e meu cartão que recebo meu benefício do INSS. Perder o celular não seria nada perto do netbook, cartões e documentos. Um dos assaltantes pulou a roleta e começou a ameaçar o motorista, caso ele não entrasse na rua a sua direita. O motorista falou: "O sinal está fechado. Tem carros vindo. Não tem como eu entrar. Espera um pouco que já entro." O assaltante estava na minha frente, com a arma em punho. Minha reação foi uma só: virei o rosto para rua e evitei olhar para ele. Se eu olhasse, certamente sobraria para mim. Ele notaria minha mochila. Ele estava muito nervoso; pedi para Deus me tornar invisível diante meus inimigos. Seus parceiros começaram a gritar: "Se o motora não entrar agora, atira na cabeça dele. Mata esse desgraçado." O assaltante mandou o motorista abrir a porta que ele faria sinal para os carros parar. Um dos carros quase bateu no ônibus. O motorista entrou na rua e andou alguns metros. O assaltante da frente gritou: "Pegaram tudo? Deu? Abre a porta motora. As duas. Agora vaza..."
Assim que o ônibus arrancou o motorista gritou: "Ninguém olha pra trás." A mulher que tem uma deficiência na perna começou a chorar. Mais do que chorar, tremeu o corpo... Estava tendo um ataque epilético. O motorista virou a quadra, manobrou como pode e parou na frente do Centro Vida, onde tem um posto da Brigada Militar. Os passageiros estavam em pânico. Desci do ônibus e acendi um cigarro. Fumei calmamente, feliz por não terem roubado nada de mim. Liguei para minha mãe, relatando pelo que havia passado. Reforcei que estava bem, só demoraria um pouco para chegar em casa. A mulher com deficiência na perna, que estava passando mal, foi retirada do ônibus e levada para atendimento. Sinceramente, eu perdi ela de vista. Estava chovendo, uma chuva fina. Leve. Passado uns 10 minutos, surgiram alguns policiais armados, perguntando sobre o ocorrido. Alguns passageiros atravessaram a rua e foram para parada, aguardar o próximo Salomé. Outros ficaram conversando, contando sobre o que perderam: Carteira, celular, dinheiro: uma das passageiras entregou R$ 100,00 que tinha no bolso. No meio das conversas, fiquei sabendo que eram 4 assaltantes. Detalhe: todos estavam armados. Uma noite horrível...
Não tem como saber quando, aonde ou que horas vamos sofrer um assalto. Contudo, é obrigação saber como agir. O primeiro e mais importante passo, é nunca reagir. Em hipótese alguma. Segundo: Evite olhar para o assaltante. Geralmente estão nervosos; um olhar pode intimidá-los e ser mal interpretado. Nada vale mais do que a vida. Melhor levar os anéis e ficarem os dedos, como diz minha mãe. Eu estava prestes a perder muitas coisas, inclusive meu trabalho da faculdade, que estava no netbook. Meus documentos já estava ciente da burocracia. Meu maior problema seria com o INSS. Mesmo assim, se pedissem, eu entregaria sem reclamar ou tentar argumentar. Deus é maior. Sabe o que faz. Espero que ninguém passe pelo que passei. Caso passe, saiba como agir...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário