O dia 02 de novembro é o dia dos mortos. Os mais antigos chamam de dia dos finados. Eis uma data que nunca chamou minha atenção. Porém, e sempre existe um, este ano o significado mudou. O sentido da morte mudou muito, desde o ano passado. Perder meu pai foi o pior acontecimento de 2017. O que doeu, foi aquele abraço, aquele beijo. Nunca imaginei que seria o último. Só restaram lembranças, e a minha sorte ficou nas mãos de quem não gosta de mim, de quem me renunciou uma vida inteira. Nego-me a humilhação. Meu pai quer que eu ande sozinho e lute por dias melhores, trazendo-lhe honra e paz espiritual.
Então, dia 02 de novembro de 2018 seria diferente. Precisava ir ao cemitério, levar flores, ascender uma vela. Lembrei que não tenho dinheiro. Bom, vou ir para conversar, falar de alguns sentimentos. Sei que pode me escutar, mas não pode responder. Eu o amo, vou ir. Claro que sim. Conforme os dias foram passando, percebi as pessoas se fantasiando, comemorando o Halloween. Na contramão, estava me preparando para ir ao cemitério. Decido escrever um texto no Facebook. As lágrimas começaram a rolar. Questiono Deus, o porquê fez isso comigo. Julgo não merecer ser contemplado. Apago o texto original, pois não sou ninguém para julgar o que Deus faz na minha vida.
Meu irmão comentou o texto, deixando seu ponto de vista. Li atentamente. Pensei, pensei e pensei. Meu pai é tio do meu irmão. Na verdade, também é meu tio. Meu pai biológico mora (ou morou) em São Borja. O nome dele é Altair (ou Atair) é o máximo que sei. Jamais tive interesse em conhecer. Nem quero. Meu pai morreu no dia 06 de dezembro de 2017. Minha mãe biológica eu conheço, respeito. Sei que ela mudou minha vida ao me entregar para o seu irmão (a historia é muito longa), e deu-me uma mãe maravilhosa (Dona Santa, minha rainha). Enfim, no dia 01 de novembro amanheci acordado. No dia 02 tomei uma decisão.
Acabei sendo covarde e não fui no cemitério. As palavras do meu irmão pesaram. Mamãe entrou no quarto e anunciou: "Vou contigo no cemitério". Eu disse que não ia, deixaria o pai descansar. Se fosse, voltaria pior do que já estou. Mamãe entendeu e não fez objeções da minha decisão. Na noite passada já havia falado o que meu irmão disse. Ela concordou com ele.
Entendo que estou fraco, que não é o momento de ir ao cemitério. Quando estiver forte, certamente irei. Homenagear os mortos, como diz meu irmão, é algo que não deveria ser feito. Até entendo. Aumenta a dor, não há respostas, mas sim, inúmeras perguntas. Minha parte fiz em vida, sorrimos, brincamos, e tivemos diversos debates. Ensinou-me sobre trabalho, casamento, como se comportar. O certo, conforme acredito, seria levar flores, ascender uma vela. Conversar, mesmo ciente que não terei resposta. Algo simples. Não tenho coragem. Nos primeiros dias, após a morte do meu pai, queria ir no cemitério. Mamãe impediu, alegando que estava fraco, que esperasse. Acreditei que o tempo me tornaria forte. Um emprego, a realização de sonhos, algo positivo aconteceria.
Nada aconteceu. Continuei desempregado, problemas e mais problemas surgiram. Minha sorte ficou nas mãos de quem repudia minha presença. Dia após dia ficava mais revoltado, ocultando os meus sentimentos, o máximo que conseguia. Para alguns amigos acabei relatando o que me incomodava. Nitidamente, eles não sabiam muito bem o que dizer. Não os culpo, porque a situação é delicada. Desejo que demorem anos e anos para sentir esta dor incontrolável. Qual o sentido da morte?
A morte não tem sentido. Ninguém sabe quando ela vai chegar. Hoje estou aqui, sentado, ouvindo músicas e escrevendo. Amanhã posso estar morto. Para alguns existe céu e inferno. Vai chegar o momento de conversar com Deus e confessar os pecados. Deus, na sua sabedoria infinita, decide se vai para o céu ou inferno. Outros acreditam que a morte é apenas uma passagem. Retornamos para o nosso verdadeiro lar. Estamos aqui para aprender e espalhar o amor. E claro, tem as pessoas que não acreditam em nada. Apenas vivem, se morrer, morreu. "Do pó vieste, ao pó retornarás".
São teorias e mais teorias. Escolha uma que se adapta e acredita no que julgar melhor. Desde que não julgue a crença dos outros, tudo certo. Respeite o próximo. Qualquer teoria vai ter uma prova, um acontecimento único. O importante é ter uma noção do que é a morte. Confesso que só busquei compreensão em 2017. Antes, era muito básico. As coisas mudam radicalmente quando a morte leva alguém tão próximo. Dói demais. Meu pai fez uma transição, está em outro plano. Claramente tenho inclinação para o lado espirita. Nada me impede de ir à igreja. Até porque, espirita fala de Deus, Jesus. Só o contexto que muda, mas a base é a mesma. O que fazer?
Eu disse para buscar compreensão, ter uma noção. Por favor, não fique pensando na morte o tempo todo. Viva tua vida da melhor maneira. Ama teus pais, beija e abraça, enquanto pode fazer isso. Encha eles de orgulho. Dê carinho, diga que ama. Não somente teus pais. Teus irmãos, parentes, amigos... Até inimigos. Não existe inimigo sem qualidades. Ama o máximo que puder; ultrapassa teus limites. Independente da tua fé, deve praticar o perdão. Perdoar é sensacional. Uma dadiva. Quem nunca errou? Só queres ser perdoado e não sabe perdoar? Melhor rever teus conceitos. Tuas atitudes e escolhas nesta vida vão refletir em outro lugar. Vai amar e perdoar. Entenda a morte, mas não foca demais.