Sexta-feira 17 de abril de 2015
Eu saí mais cedo do serviço porque queria muito ir ao centro comprar um livro. Às 16:00 horas eu estava descendo do ônibus e caminhando em direção à rua Andradas. Havia uma grande movimentação de pessoas. Parei na esquina e olhei para o lado esquerdo; avistei uma loja da Claro. Tentador, tendo em vista que precisava comprar um chip virgem para recuperar meu número. Analisei rapidamente e subjuguei que não seria necessário, já que estou sem celular. Melhor comprar o celular primeiro, depois o chip. Segui caminhando, mais alguns metros e estaria na livraria Saraiva. Olhei os livros na vitrine; não vi nada que chamasse minha atenção. Decidi entrar e procurar por tútulos interessantes. O primeiro livre que peguei na mão, falava sobre como a revista Playboy fortaleceu seu Marketing em tempos difíceis. "Nos bastidores da Playboy", era o título do livro. Queria ler uma historia, algo que ativasse minha imaginação. Andei pela livraria e olhei muitos títulos, mas nenhum me agradava o bastante para comprar. Retornei a pratilheira e peguei o livro sobre Marketing, no entanto, algo me fez desistir e sair da livraria. Era muito cedo, minha aula estava longe de começar, então, pensei que seria saudável passear um pouco. Talvez, poderia ir no Correio do Povo e tentar conversar com meu amigo. Outra ideia frustrada, já que ele é diretor e deveria estar repleto de demandas. Bom, quero comprar uma camisa da Vitorino e um terno, seria interessante pesquisar preços. Não... Eu vou na loja que sempre compro, onde agora conheço um vendedor, indicação do Éder. Eu cheguei na frente da loja e encontrei dois vendedores na porta. Um eu conhecia, mas foi o outro que pulou na frente para me atender. Queria ver quais eram suas técnicas. Que decepção...
Entrei na loja e o vendedor entrou junto comigo. Moreno escuro, semblante desgastado, com o cabelo um pouco comprido. Aparentava ter mais de 40 anos. Bem mais. De cara olhei as camisas, uma mais bela que a outra, diga-se de passagem. O vendedor se posicionou do meu lado. Não gosto de enrolar vendedores, portanto, decidi ser sincero.
- Olha só, estou olhando umas camisas, porque pretendo comprar mês que vem uma camisa e um terno. Quanto custa as camisas?
A resposta dele foi seca, direto ao ponto. Nenhum vendedor jamais me disse algo parecido. Era nítido que ele não queria mais me atender.
- Então, quando estiver com dinheiro tu volta. Não vale à pena te mostrar nada, porque estamos sempre recebendo mercadorias novas. O que te mostrar hoje, pode ser que mês que vem nem tenha mais.
Eu não sabia o que fazer, nem como agir. Perguntei sobre os ternos. Lentamente me levou para os fundos da loja e me mostrou uma série de ternos. O preço era entre R$ 700,00 e R$ 900,00. Um recado claro: "Tu não têm condições de comprar. Vá embora." Agradeci o atendimento, virei as costas e saí. Na porta, o vendedor que eu quero comprar, me reconheceu e me cumprimentou. Sorriu. Conversei um pouco, disfarcei, me despedi e segui meu rumo. Após aquele tratamento, queria muito tomar um café, e foi exatamente o que fiz. Fiquei sentado numa lancheria, pensando no que aconteceu. Tudo bem, faz parte. Andei mais um pouco pelo centro e a noite caiu; hora de ir para faculdade. No caminho, fiz questão de passar em frente a loja. Meu vendedor estava parado, quase no meio da rua. Parei e contei para ele o que havia acontecido na minha primeira passagem por ali. Disse para não esquentar a cabeça. Mostrou-me na vitrine ternos mais baratos e de qualidade (em torno de R$ 300,00). Ainda me apontou uma pessoa e perguntou se eu conhecia. Era o senhor Alex, pai do Éder. Sim, claro que conheço; ele é vendedor em outra loja, e só compro com ele. Agradeci meu vendedor e parti para faculdade. Ratifiquei que voltaria mês que vem para comprar com ele.
Quando se é vendedor é preciso saber prospectar clientes. Qualquer pessoa que entre numa loja, certamente tem um cartão de crédito. Eu tinha. Se ele tentasse, pelo menos tentasse aplicar alguma técnica, talvez eu compraria. Por que não? Não posso dizer que compraria o terno, mas estava habilitado a comprar uma camisa da Vitorino, e estou ciente do preço. Bastava conversar um pouco, ser gentil... Mas não, ele fez justamente o contrário. Quem sabe teve um dia ruim de vendas, e decidiu descontar em mim. Nunca havia passado por tal situação. Triste. Os vendedores são frequentemente testados, porém, poucos vendedores conseguem reverter e executar uma venda. Não tenho dúvida: o pior vendedor do mundo. Não relato o nome da loja, nem do vendedor que quero comprar, tudo para preservar os envolvidos e a loja em questão...